Educação voltada para a brasilidade: a importância de valorizar nossa história

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Levar a cultura e a identidade brasileiras para a sala de aula promove o respeito à diversidade e desenvolve a noção de pertencimento

Talita Nicolielo/Shutterstock

A Base Nacional Comum Curricular abrange diversas competências que servem de referência para a Educação Infantil, para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio no Brasil. Uma delas compreende “valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural”. Nesse contexto, fomentar a educação voltada para a brasilidade é um caminho para despertar nos alunos o interesse sobre a história do nosso povo.

O Brasil é um país constituído de múltiplas culturas, que foram influenciadas pela interação de pessoas vindas dos mais variados lugares do mundo. Diante disso, como pensar em uma identidade brasileira? A língua, por exemplo, seria um elemento comum no conjunto de fatores que compõem essa construção identitária. Por outro lado, os aspectos regionais, como dialetos, gírias e expressões, reforçam a diversidade.

Neste artigo, refletimos sobre a importância de criar oportunidades em sala de aula para fomentar a consciência multicultural, de trabalhar a preservação das memórias social, política e patrimonial, de discutir questões étnico-raciais e de valorizar saberes que resgatam a brasilidade de maneira positiva.

O que caracteriza a brasilidade (ou identidade brasileira)?

No livro O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil, o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) afirma que “a sociedade brasileira assumiu diversas formas, variantes no tempo e no espaço, como modos sucessivos de ajustamento a distintos imperativos externos e a diferentes condições econômicas e ecológicas regionais”.

Segundo Ribeiro, a miscigenação é o fator que se destaca na diversidade que caracteriza os brasileiros, por isso o autor considera a existência de culturas brasileiras – no plural. Nesse contexto, estão presentes fatores sociais, de gênero, religiosos, artísticos e raciais.

Para o antropólogo, diferentes povos e culturas presentes no país resultaram em maneiras distintas de se relacionar com o meio e de se organizar em sociedade, assim como originaram expressões linguísticas e artísticas, hábitos, crenças e costumes muito variados.

Qual é a importância de discutir a diversidade cultural brasileira nas escolas?

Nosso país é reconhecido mundialmente por sua diversidade cultural, e esse tema não deve ser esquecido no contexto escolar. Conhecer e vivenciar os diferentes brasis é um ponto de partida para que os alunos aprendam a desenvolver empatia e respeito por realidades que podem estar distantes das suas.

Paula Montenegro Stock/Shutterstock

Além disso, as oportunidades de diálogo e de trocas envolvendo brasilidades fazem com que as crianças e os adolescentes se reconheçam mais facilmente como cidadãos brasileiros.

Esse tipo de conteúdo, no entanto, deve fazer parte de um Projeto Político Pedagógico (PPP) e considerar o que a BNCC estabelece referente a “valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade”.

O mesmo documento ressalta a necessidade de estimular ações para a transformação da sociedade, e a criação de um espaço justo, igualitário e mais inclusivo é importante para esse processo. Assim, é possível trabalhar com os alunos a promoção da igualdade, a compreensão dos direitos humanos, o combate à discriminação e, principalmente, a construção de conhecimento a partir de elementos das culturas que formam o Brasil.

Como trabalhar a brasilidade em atividades escolares?

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”, disse Paulo Freire na obra Pedagogia da Autonomia (1996). A frase pode se conectar muito bem ao que a brasilidade (ou a cultura brasileira) permite no ambiente educacional.

Diante de uma realidade tão diversa, os professores podem explorar as perspectivas multidimensional e interdisciplinar que o tema permite.

Fred S. Pinheiro/Shutterstock

Reunimos algumas sugestões de atividades para realizar com os estudantes:

  • Pesquisas para explorar diversidades regionais

Cada região tem suas celebrações, como frevo, cordel e piseiro do Nordeste; as danças típicas e o Círio de Nazaré do Norte; as festas de Nossa Senhora Navegantes do Sudeste e outras tantas. O estudo dessas manifestações pode fazer parte tanto das aulas de Geografia quanto das de História ou de Literatura. Assim, a turma consegue conhecer diferentes culturas e modos de ser de maneira interdisciplinar.

  • Rodas de leitura

A partir do incentivo à leitura e de tarefas como fichamentos e trabalhos artísticos, o educador consegue guiar a sala em jornadas de resgate às raízes brasileiras. Por exemplo, no nosso artigo que aborda a literatura afro-brasileira, sugerimos obras que apoiam um ensino-aprendizagem baseado em pertencimentos étnico, racial e cultural, o que é fundamental para a formação de jovens muito mais engajados socialmente.

  • Feiras culturais

As feiras culturais dentro das escolas, que funcionam como evento pedagógico, são um dos caminhos mais empolgantes para desenvolver atividades elaboradas com diversidade cultural e com brasilidade. É possível escolher um tema central e, junto aos estudantes, estabelecer subtemas, grupos de trabalho e cronogramas para os projetos, inclusive convidando toda a comunidade escolar a conhecê-los.

Por exemplo, no colégio Salesiano – Unidade Rocha Miranda, que fica no Rio de Janeiro (RJ), os alunos foram incentivados a pesquisar sobre o jeito brasileiro, sobre a nossa cultura e sobre as características naturais do país em uma feira cultural realizada pela instituição em 2018. Participaram turmas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio abordando temáticas em campos como esporte, dança, música, Arte, História, política, regiões geográficas e mobilizações populares.

Como a cultura influencia na educação?

Vera Maria Candau afirma, no livro Sociedade, educação e cultura(s): questões e propostas (2003), que a cultura é um fenômeno plural e em constante transformação, envolvendo processos de criar e de recriar. Além disso, é um componente ativo na vida dos indivíduos, presente em seus atos mais corriqueiros.

Então, se entendermos a escola como sendo um ambiente favorável ao desenvolvimento do ser humano e à sua formação em todas as dimensões, também serão encontradas nesse local as diversas culturas produzidas e compartilhadas pelos alunos.

Cultura e educação se conectam partindo do pressuposto do compartilhamento de crenças, de hábitos, de valores, etc., por isso é tão importante desenvolver atividades que despertem nas turmas uma consciência crítica e reflexiva. Nesse caso, é papel da instituição priorizar um currículo que considere a multiculturalidade e que incorpore às práticas pedagógicas a valorização da identidade brasileira em suas mais diversas manifestações.

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