As telas não são inimigas da educação: recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria

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Nos últimos anos, as práticas de ensino e de aprendizagem mudaram bastante no Brasil e no mundo. Como fazer da tecnologia uma aliada nesse contexto tão desafiador?

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A presença das tecnologias digitais na educação está no centro do debate sobre o uso de telas entre crianças e adolescentes. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a intensificação do acesso aos vários aplicativos, às redes sociais e aos jogos online direcionados à população entre zero e 19 anos requer cada vez mais a atenção.

De acordo com dados do relatório TIC Kids Online Brasil, produzido pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil, 91% das crianças e dos adolescentes de 9 a 17 anos viviam em domicílios com acesso à internet em 2021. Isso demonstra a necessidade de intensificar as discussões sobre como os recursos tecnológicos impactam no comportamento social e sobre de que maneira usufruir deles considerando seus riscos e seus benefícios.

Quais são as tecnologias digitais na educação?

As tecnologias digitais no contexto educacional consistem nas variadas inovações que os profissionais da área podem usar dentro e fora da sala de aula a fim de contribuir para o aprendizado dos alunos e de viabilizar práticas de ensino mais eficientes.

Elas ajudam a melhorar o ambiente educacional, tornando-o mais compatível com o perfil de pessoas que já nasceram em um mundo dominado pelas tendências virtuais e que são conhecidas como geração de nativos digitais.

Alguns exemplos de tecnologia em constante exploração nesse meio são chat bots de inteligência artificial (como o ChatGPT), ambientes virtuais de aprendizagem, aplicativos diversos e até mesmo softwares e soluções que tornam as vidas das instituições de ensino mais práticas.

A importância das tecnologias digitais na educação

Não há um consenso sobre o uso de telas no processo de aprendizagem. Alguns educadores entendem que é possível explorar esse universo de forma lúdica, inteligente e segura, já outros defendem que a tecnologia é uma distração e que seu uso exagerado deixa as crianças e os adolescentes cada vez mais desconectados do mundo real.

Diante desse cenário de opiniões distintas, é fundamental compreender que a tecnologia não é vilã do aprendizado. A pesquisa O que pensam os professores brasileiros sobre a tecnologia digital em sala de aula revelou que 55% desses profissionais a utilizam regularmente nas escolas do Brasil.

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Realizado no primeiro semestre de 2017, o estudo teve uma amostra de 4 000 professores de todas as regiões do país e foi uma iniciativa do Todos Pela Educação em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com o Instituto Natura, com o Itaú BBA, com a Fundação Telefônica Vivo e com a Samsung.

Os educadores responderam que o maior impacto positivo está na motivação dos alunos com as atividades (34%) e que perceberam melhoras nas habilidades cognitivas e na capacidade dos estudantes de procurarem informações (17%).

Com a internet, por exemplo, o acesso à informação foi facilitado e a própria educação se tornou mais inclusiva com o uso do ensino a distância. Por outro lado, é importante considerar que, apesar do potencial que a tecnologia tem para tornar a educação mais inclusiva, ela não é acessível para todas as pessoas de maneira igualitária.

A falta de acesso adequado a dispositivos e à internet pode criar diferenças significativas nas oportunidades de aprendizado dos alunos. Além disso, o fato de as famílias não terem recursos para investir na compra de aparelhos pode ampliar as desigualdades educacionais e sociais, como aconteceu durante a pandemia. 

Quais são as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria?

Em 2020, na data em que se comemora o Dia da Internet Segura, a SBP atualizou um relatório lançado em 2016. Ele contém orientações gerais para a saúde de crianças e de adolescentes que utilizam smartphones, computadores e tablets.

O principal objetivo desse documento é auxiliar pediatras, pais, responsáveis e educadores em relação aos impactos do uso inadequado e excessivo das tecnologias digitais, além de buscar estimular práticas saudáveis nessas novas ferramentas. Veja alguns pontos:

  • Evitar a exposição de crianças menores de dois anos às telas, mesmo que passivamente;
  • Limitar o tempo de telas ao máximo de uma hora por dia, com supervisão, para crianças entre dois e cinco anos;
  • Limitar o tempo de telas ao máximo de uma ou duas horas por dia, com supervisão, para crianças entre seis e 10 anos;
  • Limitar o tempo de telas e de jogos de videogames a duas ou três horas por dia e evitar que adolescentes com idades entre 11 e 18 anos “virem a noite” jogando;
  • Evitar telas durante as refeições e desconectar uma a duas horas antes de dormir;
  • Oferecer como alternativas: atividades esportivas e exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza, sempre com supervisão responsável;
  • Criar regras saudáveis para o uso dessas tecnologias, além de cuidar da segurança com senhas e com filtros apropriados para toda a família;
  • Denunciar conteúdos e vídeos com teor de violência, com abusos, com exploração sexual, com nudez, com pornografia e com produções inadequadas ou danosas aos desenvolvimentos cerebral ou mental de crianças e de adolescentes.

O que a BNCC diz sobre as tecnologias digitais?

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) incentiva a modernização dos recursos e das práticas pedagógicas com o uso da tecnologia. Para cada etapa da educação básica (Ensinos Infantil, Fundamental e Médio), há orientações de como diversificar e de como aplicar tais métodos.

Na Educação Infantil, prevê-se o uso das tecnologias nos processos de aprendizagem e de desenvolvimento. No Ensino Fundamental, incentiva-se uma apropriação crítica, consciente e responsável em todas as áreas. Já no Ensino Médio é esperado que o aluno adote linguagens das tecnologias digitais e torne-se fluente em sua utilização.

Benefícios do uso de telas no contexto educacional

Assim como as inovações tecnológicas impulsionam avanços e garantem o bem-estar social de maneira geral, podemos listar alguns benefícios delas no ambiente escolar:

  • Acesso rápido à informação;
  • Estímulo à criatividade;
  • Diminuição das barreiras de distância entre alunos e educadores;
  • Aumento da produtividade e da eficiência;
  • Desenvolvimento de novas habilidades;
  • Facilitação de algumas tarefas.

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Riscos do mau uso de telas no contexto educacional

Por outro lado, existem algumas desvantagens e alguns efeitos colaterais associados à utilização excessiva das telas em sala de aula:

  • Dependência digital, reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018;
  • Comprometimento das interações sociais e pouco contato com o mundo físico, ambos essenciais para o desenvolvimento dos estudantes;
  • Inquietude e impaciência para atividades que não utilizam recursos tecnológicos.

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Como tornar as telas e as tecnologias aliadas da educação?

Cada vez mais, é necessário considerar um novo perfil de aluno. Ele é engajado com as ferramentas online, é conectado às mais diversas plataformas e tem facilidade para manusear celulares e para desvendar recursos nos computadores e nos demais aparelhos eletrônicos.

Diante disso, torna-se importante conciliar essas vivências com as propostas pedagógicas e metodológicas de aprendizagem visando os interesses e as necessidades do estudante. Com as tecnologias e com as telas, um universo de possibilidades se abre:

  • Chats online para tirar dúvidas;
  • Aplicativos educacionais;
  • E-books como recursos didáticos;
  • Videoaulas e palestras online.

Os tablets, os laptops e os smartphones estão repletos de funcionalidades para utilizar com a turma. Por exemplo, na sala de aula invertida, é possível compartilhar previamente documentos com os alunos e oferecer certa autonomia e certa flexibilidade nos estudos.

Nesse contexto, a escolha das soluções e das estratégias digitais também deve levar em consideração as etapas do processo de ensino, sempre pensando em otimizar as dinâmicas na sala de aula.

Outra possibilidade para o uso das telas é a gamificação de conteúdos, com jogos, com desafios e com missões que se conectam ao ambiente digital e que tendem a aumentar a curiosidade da turma. Recorrer à cultura maker, à execução de projetos nas redes sociais e à realidade virtual são mais exemplos que têm a tecnologia como aliada para desenvolver habilidades.

Por fim, para os professores, as vantagens podem estar no preparo das aulas, que se torna mais dinâmico, ampliando as fontes de pesquisa e o contato com outros profissionais da mesma área.

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